Nascido em 1932 no oeste da atual Ucrâniacarta fortune tiger png， Aharon Appelfeld teve a mãe assassinada e foi deportado com o pai para um campo de trabalho forçado aos 9 anos de idade. Sozinho， escapou do cativeiro e passou a vagar pelas florestas da região ocultando a sua identidade para sobreviver.

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Poucos anos depois， ingressou no Exército Vermelho e， em 1946， migrou para a Palestina， que estava sob domínio britânico na época. Appelfeld veio a ser um dos principais nomes da moderna literatura hebraica， bem como um dos mais importantes escritores a tratar do Holocausto em sua ficção.

Retrato de Aharon Appelfeld nos anos 1980 - Bernard Gotfryd/Library of Congress/Wikimedia Commons/Reprodução tigrinho jogo

Diferente de Primo Levi e tantos outros sobreviventes que escreveram testemunhos sobre os campos de concentração e extermínio —talvez porque já fossem adultos ao tempo das deportações e tivessem outros instrumentos para refletir sobre aquela experiência—， Appelfeld optou pela fantasia， produzindo textos nos quais a ingenuidade dos seus personagens reproduz no leitor uma sensação de absoluto terror diante da gratuidade da violência nazista.

Foi isso que senti ao concluir a leitura de "Badenheim 1939" durante o final de semana. Eu já conhecia algo sobre Appelfeld graças a sua entrevista a Philip Roth colecionada em "Entre Nós: um Escritor e Seus Colegas Falam de Trabalho". No entanto， foi somente agora， quando escrevi para a Folha sobre "O Último Processo de Kafka"， de Benjamin Balint， que passei a me interessar pelo seu trabalho.

Tanto Balint quanto Roth relacionam a obra de Appelfeld ao imaginário de Kafka e à habilidade que ambos possuíam de descrever a experiência do absurdo no cotidiano a partir da ficção， como se vivêssemos em um mundo em que a crônica tivesse perdido a sua capacidade de lidar com os fatos.

Appelfeld， por sua vez， comenta ter lido Kafka nos anos 1950， sentindo-se imediatamente atraído pelo autor que， segundo ele， escrevia no seu idioma nativo —"o alemão do império dos Habsburgo， de Viena， Praga e Tchernovtsy"— e dominava a gramática do absurdo: "Eu havia saído [...] de um mundo em que o absurdo se concretizava， e nada desse mundo me era estranho. O que me surpreendia era: como podia um homem saber tanto， de modo tão detalhado， a respeito de um mundo que ele não conhecera?".

A resposta talvez esteja no próprio "Badenheim 1939": um pequeno romance com ares de fábula que retrata os últimos dias de uma estância termal frequentada por judeus austríacos， ao estilo de algumas cidades visitadas por Kafka， como Marienbad， na República Tcheca.

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À medida que os visitantes chegam a Badenheim para conferir as atrações da temporada， agentes de um posto de saúde começam a fiscalizar casas e estabelecimentos comerciais. Aos poucos， os correios param de funcionarcarta fortune tiger png， os jornais deixam de ser distribuídos， a alimentação se torna escassa e o abastecimento de água é cortado.

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